A Empatia pode ser demais?
Eu acredito firmemente em segundas chances.
Independentemente das crenças de cada um, esta é a primeira vez que estamos vivos.
Seja aos 6 ou aos 60 anos, esta é a sua primeira vida — às vezes improvisamos e cometemos erros. Por sermos humanos e imperfeitos, erros acontecerão. Alguns por nossa culpa, outros por determinismo, mas todos fazem parte do que somos.
Eu erro. Todos erram. O importante para mim foi aprender com esses erros para não repeti-los e tentar ser uma pessoa melhor para mim e para aqueles próximos a mim.
Esta é uma visão idealista da natureza humana, mas tento dar às pessoas o benefício da dúvida, penso que querem melhorar e evoluir. Por isso as segundas chances, para que possam mostrar quem são de verdade — assim como gostaria que fizessem quando eu erro.
Foi uma antiga entrevista de Maya Angelou para Oprah Winfrey que me marcou até hoje. Não assistia a Oprah, e conheço apenas alguns poemas de Angelou, mas aquelas palavras tiveram um impacto enorme.
Lembro que, há alguns anos atrás, eu ficava muito frustrada por continuar dando chance para uma certa pessoa ser minha amiga, porque achava que poderia ajudá-la. A dor dela, suas inseguranças e solidão mexiam comigo e pensei que poderia lhe oferecer suporte. Ela não precisava viver na miséria. Tinha pessoas que queriam ajudá-la.
Mas essa mesma pessoa me afastava, mentia e manipulava — não só comigo, mas com muitos à sua volta. Chance após chance. E foi assim que as palavras de Maya Angelou ressoaram tão fundo para mim.
Oprah mencionou que continuava aprendendo a mesma lição ao longo da vida e que frequentemente lembrava das palavras dela:
“Quando as pessoas te mostram quem são, acredite nelas.”
ANGELOU: Sim, com certeza. Se uma pessoa te diz: "Eu sou egoísta", "Eu sou má" ou "Eu não sou gentil"—
WINFREY: Ou "Eu sou louca!"
ANGELOU: Acredite nelas. Elas se conhecem muito melhor do que você.
Mas não. Muitas vezes, quem não confia na vida acaba dizendo: “Não diga uma coisa assim. Você não é realmente louca. Não é realmente má. Não é tão egoísta assim” (risos). E assim que você fala isso, a pessoa acaba te mostrando quem realmente é.
“Eu te disse. Te disse que era assim. Por que está tão irritada?”
Isso ficou marcado para mim. Lembro que essa pessoa mostrava, dia após dia, quem era: egoísta, não confiável e desleal. Alguém que não era uma amiga de verdade, alguém em quem não podia confiar.
A cada momento ficava claro quem essa pessoa realmente era e qual era sua intenção. Mas, por causa da minha empatia, eu queria acreditar que poderia ser diferente. Não era assim. A realidade era clara. Será que eu tinha realmente o direito de me decepcionar?
É muito bonito tentar entender o outro e oferecer segundas, ou até terceiras, chances. Mostra o valor do seu coração, quão nobre ele é. A empatia te ajuda a reconhecer que as pessoas podem mudar e evoluir, se assim quiserem.
Mas empatia não requer ignorar a realidade. Não requer justificar ou tolerar comportamentos que continuam te ferindo. O que Maya Angelou disse nos ensina que o comportamento de uma pessoa não é só uma atitude isolada — é informação. Se alguém te mostra continuamente quem é, aceite isso como uma verdade. Não quer dizer que precise odiá-la ou desumanizá-la, mas não quer dizer que precise continuar tolerando maus-tratos.
A decepção não tem a ver só com o outro, mas também com as esperanças que colocamos naquela relação. É natural, válido e faz parte do processo de aceitar a realidade.
A decepção também te mostra até onde vão os seus limites. Nos lembram que não somos obrigados a continuar ao lado de quem não honra o que temos a oferecer. Não são muros para nos isolarmos, mas linhas para definir onde terminamos e o outro começa.
Limites não têm a ver com tentar controlar quem está do outro lado, mas com decidir o que você vai e não vai aceitar.
Quando somos muito empáticos, tendemos a olhar para o potencial das pessoas e não para quem elas são de fato. Nos apegamos à ideia de quem poderiam ser e tentamos salvá-las dos próprios padrões, muitas vezes colocando as dificuldades e sentimentos dela acima dos nossos. Não é nobre — é autodestrutivo.
Isso acaba levando ao ressentimento e, eventualmente, à exaustão, por carregar o peso dos conflitos e dificuldades alheias enquanto negligenciamos as nossas próprias. Os limites interrompem esse padrão e nos ajudam a mudar o foco para quem realmente podemos transformar e cuidar: nós mesmas.
Algumas frases simples podem ajudar a estabelecer esses limites, com firmeza, sem perder a empatia:
– Em vez de simplesmente escutar todas as queixas cansativas e enfadonhas, diga:
“Eu estou te escutando, mas é tudo que consigo prometer.”
– Quando tentarem justificar como te tratam com base nas dificuldades delas, diga:
“Eu entendo a sua dor, mas não tolerarei crueldade.”
– E quando precisar traçar uma linha clara, diga:
“Eu posso te aceitar como você é, mas isso não quer dizer que eu precise continuar por perto. Posso te dar uma segunda chance, mas não infinitas.”
Está tudo bem querer o melhor para as pessoas.
Está tudo bem oferecer segundas chances quando possível.
Mas também está tudo bem — e às vezes é necessário — ir embora quando a pessoa não se deixa mudar.
Saber quando sair não é cruel. É apenas sabedoria.